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11 de out. de 2011

#15 Nem sempre as coisas acontecem como queremos...





Nas últimas aulas de Filosofia com a turma da 6ª série tenho tratado de um assunto de fácil observação no nosso cotidiano. Essa análise, na verdade, é do livro “As consolações da Filosofia”, do autor suíço Alain de Botton, famoso por popularizar a filosofia relacionando-a com o nosso cotidiano e com o qual concordo nas suas tentativas nessa empreitada.

No livro, o capítulo se chama “Consolação para frustração”, da qual trata principalmente sobre nossa ira, raiva, relacionada aos infortúnios que acontecem em nossa vida. A análise parte do pensamento do filósofo Sêneca, que entre outras coisas foi tutor e conselheiro de Nero, imperador romano, que posteriormente sofreu perseguição do próprio Nero, por ser acusado de participar da Conspiração de Piso, que teria planejado o assassinato do imperador e então foi condenado ao suicídio. Sêneca acumulou muitos infortúnios na sua vida, não diferente de nós, pois nem só de alegrias e vitórias vivemos.
A ideia que permeia esse capítulo é a de que em cada frustração repousa uma estrutura fundamental: o choque entre um desejo e uma realidade imutável. Os choques, entre o que desejamos e o que conseguimos ter ocorrem desde o início de nossas vidas, quando descobrimos que as fontes de nossa satisfação estão além do nosso controle e que o mundo não se ajusta aos nossos desejos de forma confiável.

Exemplos são fáceis de serem encontrados:
Não conseguimos encontrar o controle remoto ou as chaves, a estrada está engarrafa, o restaurante cheio – e nós batemos portas, esbravejamos, damos murro em cima da mesa.

Segundo Sêneca o que nos deixa irritados são os conceitos otimistas sobre o mundo e as pessoas. Não que devamos ser pessimistas todo o tempo, mas é preciso entendermos que o pior pode acontecer e devemos estar preparados, caso isso venha ocorrer.

Sempre que planejamos algo, pensamos no que seria ideal como numa viagem, mas pode ser que o carro estrague, que na praia apenas chova, que eu seja assaltado. Botton afirma “Nada deve ser inesperado para nós. Nossas mentes devem projetar-se no tempo para prever todos os problemas e devemos considerar não o que costuma acontecer, mas o que pode acontecer.” Conscientes disso, caso um infortúnio ocorra, não seremos pegos despreparados, já sabíamos dessa possibilidade e poderemos agir nessa situação de maneira mais racional e não motivados pela nossa ira.

Claro que não devemos ser apáticos com relação aos infortúnios e deixar por isso mesmo. Há casos realmente em que nada se pode fazer, se planejamos uma viagem para a praia e chove, foge de nossas possibilidades, pois não temos como mudar o clima. Mas se necessitamos atravessar um ponto ao outro, em que no meio existe um abismo, construímos pontes, se necessitamos viajar mais rápido, construímos aviões. Por isso, segundo Sêneca, a sabedoria está em distinguir corretamente as situações em que estamos livres para moldar a realidade de acordo com nossos desejos daquelas que nos obrigam a aceitar o imutável com tranquilidade, pois de nada adianta deixar a ira tomar conta de nossas ações, é preciso manter-se racional para depois não ter que ficar pedindo desculpas pelas atitudes.

Botton também protagonizou uma série baseada nesse livro, caso tenha interesse abaixo estão os três vídeos a respeito desse capítulo, são aproximadamente 10 minutos cada:

 



3 comentários:

  1. Gostei do que li. É sempre bom lembrar mesmo que nem tudo é perfeito como imaginamos, para não ter ataques de frustrações .... E, concordo, quando encontrarmos abismos, aprendemos a construir pontes para seguir adiante!
    Bem interessante.
    Até!

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  2. Concordo que devemos estar preparados para tudo que possa acontecer. Porém, considero que não podemos focar muito para esse lado, pois pode nos levar à loucura.
    http://professorgadomski.blogspot.com

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  3. Loucura não, conscientes, realistas... preparados!

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